Nos últimos anos, os procedimentos de odontologia estética vem ganhando força. Afinal, um belo sorriso faz toda a diferença na autoestima do paciente. No entanto, outros recursos também têm sido utilizados, como o ácido hialurônico na Odontologia — e aí vem o problema.
Da mesma forma que a toxina botulínica, o uso de ácido hialurônico na Odontologia costuma ser malvisto por profissionais da Dermatologia. Afinal, é um recurso válido? Você deve ou não usá-lo em procedimentos? Entenda essas e outras questões neste post:
O que é ácido hialurônico?
O ácido hialurônico (AH) um polímero já existente no corpo humano, porém sua produção diminui com o passar dos anos. Ele lubrifica e absorve o impacto em partes móveis do corpo, portanto é essencial na constituição humana.
Além da importância na movimentação e articulações, é ele quem preenche o espaço entre as células e dá o aspecto liso, hidratado e elástico à pele. A capacidade de retenção da água do ácido é tão grande que ele é capaz de absorver mil vezes o seu peso. Com a baixa de sua produção, a derme começa a criar vincos, perder a densidade e enrugar.
É permitido o uso de ácido hialurônico na Odontologia?
Sim. Embora a classe médica costume se incomodar e até reclamar legalmente sobre esse exercício, o uso de ácido hialurônico na Odontologia tem amparo na Lei.
Segundo o artigo 6º da Lei nº 5.081/66, que regula o exercício da Odontologia, compete ao cirurgião-dentista praticar todos os atos pertinentes ao seu ofício decorrentes de conhecimentos adquiridos em cursos regulares ou de pós-graduação. Isso inclui prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo da Odontologia, como a utilização da toxina botulínica e do ácido hialurônico.
Já a Resolução 145, de 2014, permite o uso do ácido hialurônico em procedimentos odontológicos, com reconhecida comprovação científica.
Por fim, a Resolução 176, de 2016, revogou outras resoluções a afirmarem que dentistas só poderiam fazer uso dessas substâncias para fins terapêuticos funcionais.
Ou seja, o odontologista pode sim fazer procedimentos com ácido hialurônico que estejam relacionados à estética do sorriso.
Qual a sua aplicabilidade?
Na Odontologia, o uso de ácido hialurônico é basicamente estético:
- biomodelação labial: aumento do volume dos lábios para corrigir assimetrias, devolver o contorno e dar um aspecto mais jovem. Recomendado para lábios afinados pela genética, idade ou fumo;
- atenuação de marcas que se formam entre os cantos da boca e o queixo;
- preenchimento de rugas ao redor dos lábios (“código de barras”);
- atenuação do sulco nasogeniano (o famoso “bigode chinês”);
- atenuação de rugas mentonianas (do queixo);
- harmonização do contorno mandibular;
- disfarce de rugas de expressão;
- preenchimento de olheiras;
- preenchimento de malar;
- harmonização do nariz.
Antes de fazer a aplicação, o cirurgião-dentista deve fazer um estudo da face do paciente analisando características como forma, tamanho e comprimento de toda a região malar. Além disso, avaliar clinicamente o perfil mole da face e identificar as áreas com maior deficiência produtiva de fibras de colágeno e elastina é essencial.
Como é feita a aplicação de ácido hialurônico pelos odontologistas?
A aplicação do ácido hialurônico na Odontologia é injetável, portanto um procedimento minimamente invasivo. Porém, pode ser feito da epiderme à derme, dependo do tipo de procedimento e da região a ser tratada. Embora seja pouco dolorido, o cirurgião-dentista aplica anestesia tópica para prevenir qualquer incômodo durante o procedimento.
Assim como a profundidade da aplicação, a dosagem, aplicada com uma agulha ultrafina, também deve ser compatível com as necessidades do paciente.
Na maioria dos casos, o paciente retorna às suas atividades de rotina no dia seguinte. Então, basta apenas não massagear a área ou fazer atividades de muito esforço físico nas seis primeiras horas. É também recomendado realizar compressas de água fria e usar analgésicos ou anti-inflamatórios recomendados pelo cirurgião-dentista.
Logo após a aplicação, podem aparecer leves edemas, mas que costumam desaparecer em até 24h.
Quanto tempo dura o efeito do AH?
O ácido hialurônico é completamente absorvido pelo organismo depois de um tempo, que pode variar de seis meses a dois anos. Portanto, para a manutenção dos resultados, é fundamental realizar manutenções semestrais ou anuais, seguindo a indicação do cirurgião.
Precisa ser especialista ou fazer curso para poder realizar o procedimento?
É necessário fazer um curso de capacitação para a aplicação do ácido. No entanto, precisa ser uma pós-graduação ou algo do tipo. Ou seja, qualquer cirurgião dentista pode se capacitar.
Quais as reações adversas?
Embora o AH utilizado em procedimentos seja de composição manipulada, ele não deixa de ser uma substância orgânica. Portanto, sua aceitação pelo corpo é praticamente certa. Mas é claro que podem acontecer reações adversas, que podem ser divididas em precoces e tardias:
Reações precoces
- eritema (vermelhidão) e edema (inchaço);
- hematoma;
- necrose;
- infecção;
- nódulos.
Reações tardias
- granulomas (pequenos nódulos criados para isolar bactérias, fungos ou corpos estranhos que o organismo foi incapaz de expulsar);
- cicatriz hipertrófica (cicatriz elevada em relação ao tecido, semelhante à queloide);
- reações alérgicas.
Qual a diferença entre botox e AH?
Por mais que ambos sejam muito utilizados em procedimentos estéticos, a toxina botulínica nada tem a ver com o ácido hialurônico.
Derivada da mesma bactéria do botulismo, a toxina é extremamente segura, portanto não tem chances de causar qualquer problema de saúde e seus efeitos colaterais são raros. Ela não preenche a pele ou traz volume aos lábios, por exemplo, mas paralisa os neurotransmissores que enviam impulsos aos músculos para movimentar determinadas partes do rosto e fazer os vincos aumentarem. Com isso, diminui e previne a formação de rugas dinâmicas e vincos.
Mas o uso de botox vai além do estético. Na Odontologia, ele pode ser usado para:
- o tratamento de bruxismo, já que é capaz de bloquear os neurotransmissores que fazem com que haja a contratura da arcada dentária;
- diminuição do sorriso gengival;
- diminuição da assimetria do sorriso;
- melhoria estética do rosto e pescoço.
O uso da toxina botulínica pelos odontologistas também é permitido por Lei. O parágrafo 2 da Resolução 146, também de 2014, diz que o uso da toxina botulínica será permitido para procedimentos odontológicos e vedado para fins não odontológicos. Na prática, isso significa que o odontologista não deve aplicar o botox em outras regiões que não visem à melhoria do sorriso.
Resumindo: na Odontologia, enquanto o ácido hialurônico preenche e remodela, a toxina botulínica previne, evita ou diminui de vincos a bruxismo. Portanto, as substâncias são indicadas para procedimentos diferentes.
Viu como é possível o uso de ácido hialurônico na Odontologia? Por ser um procedimento muito requisitado, é tentador utilizá-lo em promoções para atrair mais clientes. Mas seria uma estratégia correta? O odontologista deve recorrer a ofertas e vendas publicitárias para reter clientes? Descubra se é possível entrar na Black Friday.