O transtorno do espectro autista é um problema que impacta a capacidades de comunicação, interação social e aprendizagem. Ele pode variar do grau leve ao moderado, no entanto a tendência é que o autista sofra de isolamento social. Portanto, lidar com pacientes autistas requer cuidado, mas também entendimento sobre suas necessidades e dificuldades.
Para quem nunca teve contato com uma pessoa com o transtorno, pode parecer um pouco difícil lidar com um paciente autista. Por isso, antes de julgamentos e preconceitos, converse com alguém próximo ou um responsável e descubra qual o grau do transtorno do paciente. A partir daí, você saberá qual a melhor abordagem.
Neste post, vamos responder algumas dúvidas sobre como atender pacientes autistas no seu consultório odontológico, principalmente crianças. Confira.
Como o autismo age?
Como visto, o autismo é um transtorno de desenvolvimento que se caracteriza por dificuldades de comunicação, relacionamento social e aprendizagem. Além disso, a pessoa com espectro autista costuma ser hiper ou hiporreativa aos cinco sentidos mais conhecidos, especialmente à visão e audição.
O problema costuma ser identificado em crianças (principalmente meninos) de 1 a 3 anos de idade, mas pode mostrar sinais nos primeiros meses de vida. Pode acontecer isoladamente ou acompanhado a outros transtornos psiquiátricos. A falta de informação sobre o autismo acaba levando com que essas crianças sejam excluídas do convívio social, o que agrava a tendência do transtorno em levar o indivíduo ao isolamento.
Quais as principais dificuldades com pacientes autistas?
Problemas na comunicação com o paciente, comportamento repetitivo e recusa para responder ao que foi solicitado são algumas das dificuldades relatadas pelos profissionais. Além disso, pacientes autistas costumam chegar ao consultório já com problemas, como cáries, más oclusões e bruxismo.
Por fim, a apreensão da criança (muitas vezes em resposta à ansiedade dos pais) dificulta a atuação do odontologista. Ela se recusa a abrir a boca, tem medo e chora. Isso é mais comum nas primeiras consultas.
Porém, o tratamento sugerido também vai interferir na resposta desses pacientes. Portanto, essas tendências comportamentais podem variar conforme a prática terapêutica adotada.
Como lidar com pacientes autistas?
Veja algumas orientações para oferecer o melhor atendimento possível a um indivíduo com autismo.
Converse com os pais
É fundamental que o paciente autista esteja sempre em dia com a saúde bucal. Para que isso ocorra, o tratamento mais eficiente é a prevenção. Porém, o problema é que pacientes autistas costumam ir ao consultório tardiamente, tornando o atendimento mais complexo. Portanto, converse com pais ou responsáveis pelo paciente e ensine a eles técnicas de higiene oral para aplicar ou ensinar ao paciente autista.
Além disso, os pais também poderão informar sobre o grau de autismo e outras informações cruciais sobre a condição do paciente. Numa primeira consulta, dificilmente você conseguirá quebrar a barreira de isolamento desse paciente. Portanto, quanto mais ferramentas tiver para criar um relacionamento com a criança, melhor.
Tenha paciência
Como dito, não será na primeira consulta que a relação entre profissional e paciente vai se firmar. Em alguns casos, principalmente de autismo severo, os responsáveis ficarão no consultório para tranquilizar o paciente. Porém, serão nesses momentos que a confiança vai começar a surgir. Portanto, tenha paciência, coloque-se no lugar do paciente e construa esse relacionamento sem forçar uma aproximação.
Ensine com vídeos
Dependendo do grau de autismo, o paciente pode ter dificuldade em assimilar as suas solicitações. Uma efetiva forma de ensiná-lo alguns comandos é a gravação em vídeo. Em gravações, mostre à criança como ela deve fazer a escovação diária dos dentes, incluindo o uso de fio dental. Você vai prevenir o aparecimento ou piora de problemas, além de auxiliá-la a ter independência.
O ideal é que seja no seu consultório odontológico. Ao assistir, ela vai se acostumar com sua aparência, forma de falar, além do local e das ferramentas de tratamento.
Peça para que os pais mostrem a gravação toda vez que a criança fizer a escovação. Com o tempo, ela fará de forma automática.
Fique na direção do paciente
A tendência ao isolamento social é refletida na dificuldade do paciente em olhar nos olhos. Nesse contexto, é responsabilidade do odontologista conseguir se comunicar com o paciente atraindo seu olhar.
Portanto, sempre que possível, mantenha-se na altura do olhar da criança (mesmo que ela não esteja te olhando). Assim, você facilita o contato visual — já que ela não precisará olhar para cima — e transmite confiança.
Cores e o aspecto lúdico
O lúdico é um fator muito usado para atrair a atenção de crianças e pode ser utilizado também com pacientes autistas. Jalecos coloridos, desenhos na decoração, óculos maiores e cores chamativas (mas não em exagero) vão atrair o olhar para você.
Outra forma de usar o lúdico é na aprendizagem. Você pode, por exemplo, utilizar fantoches para ensinar a criança a escovar os dentes. Cada etapa que ela conseguir realizar deve ser seguida de um elogio para motivá-la.
Ofereça tranquilidade no atendimento
O consultório precisa ser visualmente agradável. Mesmo que seu visual seja mais colorido, os tons precisam ser claros. Você pode também colocar espelhos na parede. Assim, caso a criança queira um contato visual conhecido, poderá recorrer a eles.
Elogie
Quando o paciente mantiver contato visual ou conseguir executar uma sequência ensinada, elogie a atitude. Ele vai se sentir mais motivado a repetir a ação.
Ensine com músicas
Além dos vídeos, outra forma de ensinar às crianças com autismo é utilizando músicas. Você pode trocar a letra de uma música que ela gosta e ensinar a sequência da escovação e do uso de fio dental.
Pacientes autistas costumam ter grande aptidão musical. Portanto, utilize esse recurso sempre que possível.
Como você viu, oferecer um excelente atendimento a pacientes autistas não é um problema, mas o profissional precisa ser humanizado. Essa regra, claro, vale para todos os tipos de clientes. Veja agora como lidar com pacientes cardiopatas no consultório odontológico.