É inegável que a implantodontia tem sido umas das especialidades da odontologia mais beneficiadas pela tecnologia nos últimos anos. Novos desenhos de implantes, novas superfícies de contato com o tecido ósseo, componentes e próteses confeccionados com auxílio da tecnologia CAD-CAM e muito mais. Entretanto, nunca vimos tantas iatrogenias em implantodontia como estamos observando agora. É fato que o número de cirurgias de implante realizadas cresce em ritmo acelerado também, mas todos os dias observamos fatos que poderiam ter sido evitados.
Ferramentas de planejamento virtuais já não são exclusividades de mega-aulas em congressos ou de grandes experts no assunto. Hoje quem tem um notebook muito simples já tem condições simular a posição de implantes antes de operar o paciente; a Tomografia Computadorizada, antes disponível apenas em capitais e grandes centros está se permeando por cidades interioranas com velocidade inacreditável. O custo de exames tomográficos dificilmente chega a 10% do valor total do tratamento. Em alguns casos não chega a 2%.
Nos centros de radiologia, atendemos pacientes todas as semanas tem histórias muito semelhantes entre si. São precedidos por uma ligação do colega explicando que cometeu uma iatrogenia, que estava correndo tudo bem no trans-operatório e que não sabe dizer o que pode ter acontecido. Querem ver o resultado imediatamente. Alguns pedem para pagar o exame para o paciente. Todos alegam que o caso era simples, e portanto não solicitaram tomografia no pré-operatório.
Eis que algumas horas depois (às vezes alguns minutos) chega o paciente, visivelmente desapontado com o ocorrido já informado pelo colega. Dispara perguntas para todos os funcionários da clínica, perguntando o que houve e se será possível resolver. A ansiedade é eminente.
Após a análise das imagens, encontramos muitas vezes o que já suspeitávamos existir. Uma trepanação do canal mandibular, muitas vezes até sua cortical inferior, gerando provavelmente uma parestesia do nervo alveolar inferior que será irreversível na maioria das vezes.
Não há mais justificativas. A literatura mundial está repleta de artigos que são categóricos em dizer que a tomografia computadorizada deve ser realizada para 100% das avaliações pré-operatórias de cirurgia de implante. Se um paciente que tenha sofrido lesões decorrentes de uma cirurgia de insucesso for questionar seus direitos na justiça, nenhum advogado conseguirá defender o profissional que não se preocupou em planejar o caso corretamente, com as ferramentas disponíveis no mercado. Falhas no planejamento vão pressupor falhas no tratamento como um todo.
Por uma odontologia que valorize o diagnóstico, o tratamento, o dentista e o paciente, não podemos deixar o preço de nada ser maior que o bem-estar de nossos pacientes.