A periodontite é uma doença inflamatória de etiologia bacteriana, caracterizada pela perda das estruturas de suporte dos dentes, isto é, perda de cemento radicular, ligamento periodontal e osso alveolar, e o seu tratamento visa, essencialmente, a recuperação da condição de saúde e sua manutenção em longo prazo. Essa doença se desenvolve em decorrência de um desequilíbrio entre a agressão microbiana e a resposta de defesa do hospedeiro, que poderá ocorrer em virtude de doenças sistêmicas (diabetes mellitus e AIDS, por exemplo), fatores psicossomáticos (como o estresse), uso de medicamentos, adoção de hábitos nocivos (como o fumo) ou fatores genéticos.
Dentre os fatores de risco da doença periodontal, o fumo tem sido extensamente estudado por ser considerado o principal fator de risco modificável da mesma. Na atualidade, existem aproximadamente 1bilhão e 300 milhões de fumantes no mundo. Destes, mais de 900 milhões vivem em países em desenvolvimento. A percentagem global dos fumantes é de 29% (47,5% dos homens e 10,3% das mulheres maiores de 15 anos são fumantes).
O fumo é o inimigo número um da saúde periodontal. A fumaça do cigarro resultante da combustão incompleta do tabaco é constituída por uma mistura heterogênea, da qual fazem parte a nicotina e o monóxido de carbono (CO), que são as principais substâncias químicas responsáveis pelos efeitos deletérios do fumo nos tecidos periodontais. Está demonstrado que o fumo apresenta efeitos negativos ao periodonto, provocando diminuição do fluxo sangüíneo, alteração na função dos neutrófilos, diminuição da produção de IgG e da proliferação de linfócitos, aumento da prevalência de periodontopatógenos, alteração na função e inserção de fibroblastos, dificuldade de eliminação dos patógenos através de terapia mecânica, bem como efeitos locais negativos relacionados à produção de citocinas e fatores de crescimento.
Estes efeitos deletérios do fumo são associados à presença de mais de 4000 constituintes tóxicos. Os fumantes apresentam ainda aumento na profundidade de sondagem e na perda de inserção clínica, quando comparados a pacientes não fumantes de mesma faixa etária. Parece haver também uma relação direta entre o consumo de tabaco e a severidade da doença, evidenciada em parâmetros como número de cigarros/dia e quantidade de anos em que o indivíduo fumou. O tabagismo também prejudica a vascularização na fase de cicatrização dos tecidos ósseos e do tecido conjuntivo, o que é particularmente crítico em cirurgias regenerativas, plásticas periodontais e para instalação de implantes osseointegrados.
Por Prof. Dr. Sérgio Luís Scombatti de Souza